domingo, 29 de julho de 2012

Alasca era só o rumo...

Queridos leitores,
Há alguns meses, percebi que o Alasca era só o rumo que eu tinha tomado para minha viagem. O dinheiro não daria para ir até lá e pensava em ir até a Flórida, de onde pretendia enviar a moto ao Brasil por navio e voltar de avião. Entretanto, ao chegar ao México e receber as cotações para o envio e de sentir aquela tristeza de que a viagem estava acabando, mudei de ideia e decidi vender a moto após percorrer 19.046 km por 14 países, em quatros meses e meio.

Na verdade, depois de tentar vendê-la no México, sem sucesso, voltei à Guatemala e acabei de conseguir fechar negócio aqui (nessa loja aí da foto acima), onde é possível legalizar um veículo usado. Portanto, faço esse post de despedida do blog mas devo continuar viajando de ônibus mesmo, até o dinheiro acabar, visitando os lugares em que não estive por causa da pressa de chegar aos Estados Unidos.

Os chicken buses, como são conhecidos os ônibus velhos que transportam a população da maioria dos países da América Central, serão meu novo meio de transporte. Logo o primeiro que peguei após a venda da moto, em Xela, tinha uma trilha sonora de Roberto Carlos em espanhol. Fiz um vídeo mas não consegui postar aqui. Para a despedida mando fotos dos dois últimos países em que estive e sobre os quais não tinha postado nada.

Beijos e abraços!

Tulum, no estado de Yucatán, no México...



O cenotes de Tulum, que são essas cavernas com rios subterrâneos de águas cristalinas




Ainda na Guatemala, Semuc Chamey e os vulcões do Lago Atitlan






Dois típicos chicken buses guatemaltecos



sexta-feira, 29 de junho de 2012

Vulcões e histórias na Nicarágua


Olá pessoal,

Passei por três países sem escrever nada aqui no blog (desculpem se causei preocupações pelo sumiço a alguns dos valiosos cinco leitores) e já estou na Guatemala, que está se mostrando realmente incrível. Entre Nicarágua, Honduras e El Salvador, optei por conhecer melhor o primeiro e só atravessar os outros dois para ter mais tempo aqui.

A Nicarágua foi uma boa surpresa para mim. Além do cenário natural peculiar nas Ilhas Ometepes (foto acima), as conversas e histórias dos nicaraguenses valeram a visita. As ilhas são formadas por dois vulcões que emergem no meio do Lago Nicarágua. As circunferências delas são de cerca de 30 a 40 quilômetros e lá vive uma população rural, bastante hospitaleira. Os vulcões de cerca de 1,500 metros de altura acima do nível da água são cobertos por uma mata tropical bem preservada, cheia de macacos e pássaros. Um deles ainda está ativo e o outro tem um lago no que era a cratera.

As histórias dos nicaraguenses giram principalmente em torno das duas últimas guerras civis, que marcaram a história do país. A da década de 70 para acabar a ditadura Somoza e depois a dos Contras que tentavam derrubar o governo sandinista. Esta última foi da década de 1980 até o início dos anos 90 e quase todos os homens com mais de 35 anos tiveram alguma participação. A atmosfera no país, no entanto, não é triste por isso. Pelo contrário, a maioria parece bem animada com o presente e o futuro. Acho que o turismo crescente parece ajudar a economia do país a se recuperar.

Quanto a Honduras, passei somente 150 km para atravessar o país no menor caminho possível e a experiência não foi das melhores. O funcionário da fronteira me cobrou 35 dólares pela autorização de entrada da moto, que vale menos de 10 dólares e as estradas e construções do país parecem destruídas. El Salvador me pareceu em melhores condições financeiras, mas atravessei o país em uma tarde e uma manhã, sem ver quase nada além de estradas.

Na entrada da Guatemala, a moto (ela de novo!) me deu algumas dores de cabeça, com panes elétricas que queimaram três fusíveis em um dia - a minha velha companheira de guerra, XT 600, que tem 15 anos e mais de 160 mil km rodados, parece cansada, mas acho que aguenta até o fim. A sorte é que a pane final foi a alguns quarteirões de uma concessionária Yamaha, na capital do país (Cidade da Guatemala, conhecida como Guate), em que o gerente (grande Sérgio Mendes, que tem nome de cantor brasileiro) costuma ajudar os viajantes de moto. Resultado: fez uma revisão completa e não me cobrou absolutamente nada. Tudo de graça. E isso foi só uma mostra das boas-vindas que recebi por aqui. Agora começo a desbravar mais este país antes de partir para o México.

Abaixo seguem algumas fotos da Nicarágua:



Vista de Granada, cidade do século XVI que fica às margens do Lago Nicarágua



Transporte público na também histórica Léon, berço das revoluções nicaraguenses



Vista do vulcão ainda ativo das Ilhas Ometepes

Abraços,
Claudio.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Até parece que eu tô na Bahia...

Salve galera,
Até agora a Costa Rica foi o lugar mais parecido com o Brasil que encontrei em toda a viagem. Tanto do lado do Atlântico quanto do Pacífico, as praias daqui lembram bastante as nossas. Entrei no país pela estrada que beira a costa do Caribe e fiquei dois dias em Puerto Viejo de Talamanca, uma cidadezinha que bem poderia estar na Bahia, com seu ritmo lento, praias com águas quentes e uma mata tropical misturada a coqueiros na beira do mar (como nesta foto na praia de Manzanilla, a 10 km de lá). A diferença é o som o reggae que domina os ouvidos locais.

Já no lado do Pacífico, fui a Manuel Antonio, um conhecido parque nacional que tem montanhas verdes e praias de águas azuis, lembrando Florianópolis. Para completar a semelhança, as praias das cidades próximas são cheias de surfistas e as pranchas fazem parte do visual local. A conservação e a estrutura do parque são bem legais e caminhando pelas trilhas bem demarcadas se vê muitos animais que também são parecidos com os do Brasil, como esse macaco da foto abaixo. A Costa Rica tem uma experiência bem grande em ecoturismo e recebe hordas de estrangeiros para isso.



Chegando à capital, San José, não vi nada demais nessa organizada cidade, cheias de redes de fast food americanas e sem uma identidade marcante. Uma característica é que as ruas são todas nomeadas por números, mas não há placas com esses números e as pessoas da cidade também não os conhece. Os endereços são todos com referências de prédios conhecidos, como 100 metros ao sul do prédio do Banco da Costa Rica. Coisa de maluco.

Amanhã, saio bem cedo rumo à Nicarágua. Queria ter ido hoje, mas o mecânico demorou a trocar a roda da frente da moto e decidi sair só amanhã para não pegar noite na estrada. Isso mesmo, já é a segunda roda que tenho de trocar. Os aros de ambas estavam enferrujados e estavam furando as câmaras de ar dos pneus.

Ainda no Panamá, na sexta-feira passada, quando estava a caminho da Costa Rica, o pneu da frente furou duas vezes no mesmo dia. A segunda foi à noite no meio de uma área indígena, que não tinha borracheiro algum. Andei 10 km com o pneu vazio até parar em uma venda. Lá, tirei a roda para levar a um borracheiro no dia seguinte, na próxima cidade. Um americano que estava na venda e vive desde 1979 no lugar deixou eu passar a noite numa rede na varanda da casa sobre palafitas que está construindo no meio do mato (foto acima).

Problemas com a moto têm sido a parte mais desagradável da viagem. Já tive cinco pneus furados, duas panes elétricas durante as chuvas, uma corrente arrebentada e um sem-número de raios quebrados na roda traseira. Tomara que agora, com as duas rodas novas, a moto que já tem 15 anos de idade e mais de 160 mil km rodados pare de dar problemas.

Abraços,
Claudio.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Panamá além do canal

Após fazer as contas dos gastos para atravessar o vazio que há entre a Colômbia e o Panamá, acabei decidindo cruzar esse trecho pelo jeito mais barato e, claro, mais difícil. Fui pegando barquinhos pequenos, como este da foto, de povoado em povoado na região de Darien, província do Panamá em que não há estradas, só mata e algumas vilas na costa. Foram quatro dias (dois deles sem banho de água doce) em que eu e a moto fomos levados por quatro barcos.

O termino da parte terrestre foi em Turbo, no norte da Colômbia, que é uma cidadezinha bem feia, com águas bem poluídas. A partir daí, a moto seguiu em um barco que leva bananas para Puerto Abaldia, já no lado panamenho. Como o barco não leva passageiros, eu tive de tomar dois barquinhos de fibra, como esse da foto também, que vão em alta velocidade, sacudindo e batendo nas ondas. Não parece, mas após três horas de viagem, você está quebrado. Depois, foram dois dias em Puerto Abaldia, esperando o barco de bananas e implorando para algum dono desses barquinhos levar a moto até Carti, onde começa a estrada do lado panamenho.

Essa última pernada levou oito horas e foi a mais cara (US$ 200 pela moto e mais US$ 100 para o mesmo barquinho me levar). E eu ainda tive de arranjar mais seis passageiros, pagando US$ 100 cada um, para que o barqueiro quisesse sair. Ao todo, de Cartagena, na Colômbia, à cidade do Panamá a travessia saiu por US$ 600. A opção de colocar a moto em um navio cargueiro custaria bem mais (US$ 900, pelo navio com as taxas portuárias, e mais a minha passagem de avião, por quase US$ 300, ou de veleiro, por cerca de US$ 500). Os preços da travessia aumentaram bastante depois que a Capitania dos Portos colombiana proibiu os veleiros de levarem motos.

Depois disso tudo, tive de descansar dois dias nessa ilha aí da foto, que fica no arquipélago de San Blás, um território controlado pelos índios Kuna Yala, no litoral caribenho do Panamá. A água é realmente incrível, morna e cristalina. A ilha em que fiquei se chama Iguana (foto acima) e tem apenas quatro cabanas de bambu e palha, bem simples, que hospedam turistas que não estão pensando muito em conforto, apenas tranquilidade. E foi o que tive.

Além do mar transparente, o Panamá tem grande parte do seu território com florestas tropicais bem preservadas, o que torna o país um grande destino para o ecoturismo. O que não vi muita graça foi na capital (foto acima), que é conhecida como a Miami da América Central, com toda razão. O bairro histórico de Casco Viejo, onde estou hospedado, tem algum casario colonial, mas ainda está sendo recuperado depois de anos de degradação. A visita ao canal para ver os navios cargueiros passando pelas eclusas é outro programa que vale a pena. Bom, hoje ainda estou na cidade do Panamá e amanhã sigo rumo ao noroeste do país e devo dormir em alguma praia no caminho para a Costa Rica.

Beijos e abraços,
Claudio de Souza.

domingo, 20 de maio de 2012

Colômbia: esta és mi tierra

Nesses 20 dias desde que saí do Equador, a Colômbia me conquistou. A exuberância verde de suas montanhas e a diversidade de clima logo me chamaram a atenção nos primeiros quilômetros pós-fronteira. Em algumas horas, todo o cenáro muda. As estradas vão a mais de 3 mil metros de altitude (como esta da primeira foto), com 10 graus de temperatura, e logo depois ao nível do mar, "mostrando um país tropical", com um calor de quase 40 graus. Até a comida e o sotaque do povo muda em uma distância surpreendentemente curta.

Logo após a primeira noite aqui, que foi numa cidade não muito aprazível, chamada Pasto, no primero café da manhã na estrada, perguntei o que havia de café da manhã. A resposta: carne, ovo mexido ou frango, com arroz e batatas fritas. Tem pão? Perguntei. Não. Disse a atendente do restarante às 9h da manhã com cara de espanto para uma pergunta tão estúpida. No dia seguinte, já estava em Cali, onde comer pão (com ovo também, claro) e café, no café da manhã, já é uma coisa normal.

A guerrilha, logo lembrada quando se houve o nome do país, não chegou a me preocupar em nenhum ponto das rodovias, que são extremamente vigiadas pelo Exército e pela Polícia Nacional. Rodei quase 3 mil quilômetros, cortando a Colômbia da fronteira com o Equador, no sudoeste do país, até a costa do Caribe, em Cartagena, onde estou agora, e todo o tempo vi muitos soldados patrulhando a estrada, principalmente no trecho até Cali, que fica mais próxima da costa do pacífico (esse ônibus acima é típico em toda a Colômbia).

Até agora, enquanto estive aqui, houve dois episódios que trouxeram a guerrilha para as primeiras páginas dos jornais, que foram o sequestro do jornalista francês e o atentado ao ex-ministro do governo Uribe em Bogotá. No primeiro caso, o jornalista estava cobrindo um combate entre forças do governo e da guerrilha quando foi capturado. Então, não é uma onda de sequestros fora das "áreas de conflito". No segundo episódio, apesar de eu ter passado pelo local da explosão umas duas horas antes, saindo da capital rumo a Medellín, acho que a probabilidade de ser atingido pela explosão é quase igual a de se ferir com um bueiro da Light no Rio.

Nas livrarias, o que mais vi são livros sobre o tema. E nas conversas entre viajantes, a guerrilha também é sempre mencionada. Mas em conversa com os colombianos, sempre que pergunto sobre o tema, noto que as pessoas desviam do assunto. E não é por medo. Acho que é mesmo porque já estão de saco cheio de serem perguntadas e de serem tão conhecidas pelo problema.

Além das forças armadas, as montanhas e a chuva (ela de novo, pelo menos uma horinha por dia) me acompanharam todo o tempo nas estradas, fazendo com que viagens de 400 km demorassem quase 10 horas. As montanhas ficaram para trás pouco antes de Cartagena, mas as chuvas não, tornando-se torrenciais todas as noites (a primeira me pegou a pouco mais de 10 km de Cartagena para dar as boas-vindas). Se você está a salvo é até bom para aliviar o calor de quase 40 graus, mas essa noite a hospedaria em que estou não me deixou tão a salvo assim e uma cascata caiu sobre minha cabeça às 4h da manhã, molhando tudo e me obrigando a mudar de quarto no meio da madrugada.

Além do campo e das florestas daqui, as três maiores cidades colombianas também me conquistaram. Bogotá, Cali e Medellín, cada uma tem sua peculiaridade e seu charme. Bogotá (a foto acima é da Praça Bolivar, no centro de Bogotá) foi a cidade de que mais gostei e em que mais tempo fiquei: uma semana. O suficiente para esmiuçar cada quarteirão da Candelária, bairro antigo ao lado do centro e onde fica a maior parte das hospedagens de mochileiros e dos prédios históricos. A beleza do casario colonial e de prédios de séculos atrás, a beira de montanhas verdes como as do Rio de Janeiro, dão um toque especial ao lugar. O porém é o número imenso de pedintes nas ruas. Que pena. Outro problema chega à noite. A chapa é quente e soube de pelo menos dois roubos a turistas que estavam no abergue em que me hospedei.

Bom, mas voltando aos fatos positivos: a música. Desde que saí do Brasil, a Colômbia foi o primeiro país em que escutei música local que não fosse aquele folclore andino das flautinhas. Em todos os outros, o pior da música brasileira e internacional é a trilha sonora dominante. Na Colômbia, a salsa, a rumba dão o tom e ainda tem uma interação bem grande com as demais sonoridades caribenhas, com destaque para a música cubana.

Bom, agora estou buscando uma forma de atravessar o chamado Darien Gap, uma área coberta de floresta do sul do Panamá em que não há estradas ou qualquer caminho. Para meu azar, os veleiros que fazem a travessia de Cartagena (essa última foto é da Cidade Murada, parte mais antiga de Cartagena) ao Panamá foram proibidos recentemente de levar motos, como costumavam fazer há anos. Bom, as opções são complicadas. A primeira é esperar um navio cargueiro para mandar a moto e que pode demorar bastante e com preços salgados (800 dólatres pela moto mais a minha passagem de avião). A segunda é pegar três ou quatro pequenos barcos de pesca e carga que cruzam os trechos entre pequenos povoados que ficam isolados na costa do Darien Gap. Se eu não conseguir confirmar um navio até terça-feira, acho que vou tentar a segunda opção.

Abraços,
Claudio.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cheguei à metade... do mundo

Essa semana passei dos 10 mil quilômetros rodados e ultrapassei a linha do Equador. Ainda não sei se é a metade do caminho, porque não sei ao certo a quilometragem que irei percorrer, mas já andei pra burro. Cruzei a fronteira do Peru com o Equador no domingo e, amanhã, já devo estar na Colômbia. Resolvi dar uma aceleradinha na viagem porque só no Peru fiquei um mês e, como não dá pra conhecer bem tudo, tenho de escolher alguns pontos. A Colômbia espero que seja um desses pontos.

Mas não é desdém com o país que marca a metade do mundo. O Equador vai muito além da linha. Logo que entrei aqui a paisagem mudou completamente depois dos milhares de quilômetros de deserto desde o Atacama, no norte do Chile, até o norte do Peru. O clima virou tropical, com muito verde, plantações de banana, montanhas e vulcões. São mais de 30 no Equador, muitos ainda ativos.

Escolhi visitar um deles, o Quilotoa (esse aí da foto). O vulcão tem um lago de água verde na cratera e fica a 4 mil metros de altitude. O calor da planície equatoriana logo se foi quando comecei a subir as montanhas rumo ao centro do país e no vulcão o frio foi de lascar, com direito a chuva de gelo. Aliás, foi deixar o deserto peruano e a chuva voltou a me acompanhar.

Por causa dela, da chuva, tive de dormir de ontem para hoje na vila que fica à beira do Quilotoa porque estava todo molhado e não ia enfrentar a estrada naquele frio. Foi uma experiência "étnica", se posso assim chamá-la. Dormi numa pousada dos índios andinos, que só ficavam falando Quechua, e eu era o único hóspede, além de único não-índio a passar a noite no lugar. Acordei cedo e vim dormir numa cidade a três horas da fronteira colombiana, chamada Otavalo. Amanhã, Colômbia.

Desculpem por dar tão breves e espaçadas notícias, mas essa vida de viajante está muito corrida. Não durmo duas noites na mesma cidade desde que saí de Lima, no dia 26.

Abraços!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Como buzinam esses peruanos

Aproveito a manhã de mais um dia cinzento em Lima, para aparecer por aqui. Pelo menos nessa época do ano, é assim. Um dia nublado, outro também. Em alguns momentos, as nuvens se abrem e aparece o sol forte com céu azul, esquentando a temperatura estranhamente baixa para uma cidade litorânea e tão próxima da Linha do Equador.

Estou hospedado em um albergue em Miraflores, que é um distrito que corresponderia a Ipanema e Leblon, no Rio. Segurança, policiais por todo lado, ruas limpíssimas, prédios luxuosos e uma sensação de que nem se está no Peru, não fosse o barulho constante das buzinas. Aliás, acho que essa é a principal marca da cidade. Como buzinam por tudo esses motoristas, principalmente os taxistas. O trânsito louco faz o Rio parecer a Suíça de tão organizado.


O bairro de Miraflores (foto lá no topo) e o vizinho Barranco ficam debruçados em penhascos sobre o mar, formando um cenário incrível. As praias, no entanto, deixam a desejar. Na maior parte, não há areia, só pedrinhas, e a água, gelada, marrom e poluída. O litoral limenho só é bom mesmo para quem quer surfar, com ondas enormes e perfeitas.


O sistema de transporte público, como não podia deixar de ser, é caótico, com ônibus grandes fazendo lotações e disputando passageiros com vans, aos gritos dos cobradores pendurados nas portas. A exceção é o BRT, que chamam de Metropolitano. Os ônibus articulados e bem novos são o metrô de superfície limenho. Peguei para ir de Miraflores ao Centro e voltei por volta das 18h, com espaço de sobra, mas é claro que não são todas as linhas que funcionam assim.


O centro histórico de Lima é bem bonito e, como em Cusco ou Arequipa, apresenta enormes construções coloniais bem preservadas ao redor da praça principal, em quase todas as cidades da América espanhola chamada de Plaza de Armas. Saindo da parte histórica, a bagunça e confusão tomam conta do centro.



Em contraste com o tumulto de Lima que enfrento agora, passei uns dias antes na calmaria de Huacachina, uma vila no meio de dunas gigantes no deserto (foto acima). O lugar fica a uns 300 quilômetros ao sul de Lima e foi minha principal parada de Arequipa até aqui. As atrações locais, claro, são passeio de bugre pelas montanhas de areia e sandboarding.

Abraços e até a próxima!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Vulcões, história e boa comida em Arequipa


Salve queridos amigos-leitores,

Após uma semana em Arequipa, no Peru, arranjei um tempinho para dar notícias daqui. Bom, estou vivo depois de uma experiência bastante radical que não pretendo repetir nesta vida. Subi o vulcão El Misti, que tem 5.800 metros de altura sem estar devidamente ambientado com a altitude nem com o preparo físico requerido. Sofri bastante com o frio e com os sintomas do ar rarefeito, mas agora que passou já começo a achar graça.

A foto aí em cima é do grande momento da chegada ao cume. Ufa! Foram dois dias de um esforço descomunal, com uma noite em barraca a uma temperatura de cinco graus negativos, para sair dos 3 mil metros acima do nível do mar e chegar ao topo. Tudo isso para ficar uma hora lá em cima, enjoado e com uma dor de cabeça de matar. Ou seja, uma ideia de jerico.

Mas não é só de sacrifícios essa vida de viajante. Tenho passado dias muito agradáveis nessa cidade para lá de aprazível. Arequipa foi fundada em 1540 e ainda guarda um centro histórico muito bem conservado, mantendo a alma de uma cidade de verdade. Não é como Cuzco, por exemplo, que também mantém sua arquitetura colonial preservada, mas parece meio Disney, só com turistas nas ruas ou com quem venda ou tente vender algo para eles.

Aqui os peruanos comuns trabalham, vão ao banco, ao fórum, almoçam nos restaurantes. Um clima que tem me atraído bastante. Além da atmosfera arequipenha, a boa comida, a preços módicos, é outro atrativo. Ceviches irresistíveis ou mesmo uma simples refeição popular com frango assado têm me segurado, a cada vez, mais um dia nesta cidade.

No lado histórico-cultural, gostei muito de visitar o Monastério Santa Catalina, inaugurado no século XVI, para receber as mulheres que ficavam enclausuradas para se tornarem freiras. As construções foram ampliadas ao longo dos séculos e reformadas após os diversos terremotos que atingiram Arequipa. Outro atrativo bem interessante é o Museu Andino, que mostra incríveis achados arqueológicos dos Incas na região.

Agora, penso em seguir em direção a Lima pela estrada mais próxima ao litoral, que é o caminho mais curto e estou um pouco cansado de pegar frio nos Andes. É isso, pessoal. Até o próximo post. Abaixo seguem algumas fotos da cidade.



Vulcão El Misti ao fundo, vigiando Arequipa.



A Plaza de Armas, vista da torre da catedral.


O popular Mercado San Camilo.

Abraços,
Claudio.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Depois de longas férias, volto a dar notícias...


Depois de um tempo sumido do blog, volto com muito atraso para dar notícias a quem anda preocupado ou curioso de como andam as coisas. Bom, para começar, estou em Iquique, no norte do Chile, desde sexta-feira, para consertar a moto. Em terras estrangeiras, além do Chile, já passei pelo Paraguai e Argentina.

Na Argentina, curti bastante o norte do país, que ainda não conhecia. O lado negativo foram os custos. Fiquei impressionado como a Argentina está cara. Desde a última vez que estive lá, há uns dois anos, os preços dobraram e estão iguais aos do Brasil. A gasolina é muitas vezes mais cara do que no Brasil. O combustível também está com valores semelhantes no Paraguai e no Chile.

Fiquei uns dias em Salta, que é uma das cidades de onde turistas (mochileiros na maioria) saem para fazer os passeios no lado argentino do altiplano, como chamam as terras que ficam no alto dos Andes. A região é de transição para o deserto, com lagoas coloridas e salares, que, ao meu ver, não fica devendo nada para o o altiplano boliviano.



Nesta época do ano, Salta tem chuva quase todos os dias porque as nuvens ficam presas nas montanhas, mas, quando se sobe os Andes e atravessa as nuvens, o céu fica azul, sem uma gota de chuva na secura total do altiplano. Depois de Salta ainda dormi em Pumamarca, um dos diversos "pueblos" andinos da região, e parti para o Chile, para San Pedro de Atacama, pelo Passo Jama, uma das diversas passagens de fronteira com a Argentina.

A chegada no lado chileno foi em San Pedro do Atacama. Aliás, São Pedro estava me perseguindo. Desde que saí do Brasil, não havia um dia em que eu pegasse estrada de moto e que não chovesse pelo menos em algum momento. E não foi diferente mesmo no Atacama, que é a região mais seca do mundo. É claro que foram só uns pinguinhos que nem chegaram a molhar direito, mas choveu. Agora parece que ele parou de me perseguir e água só no chuveiro.


Como já conhecia o Atacama não fiquei muito tempo em San Pedro, duas noites e um dia para descansar. Além disso, no caminho de moto já fui passando pelas principais atrações que ficam ao redor da cidade. Depois de San Pedro, vem a monotonia de centenas e centenas de quilômetros de deserto chileno que perde a diversidade de cores à medida que se aproxima do litoral.

Estou escrevendo de Iquique, um porto no Pacífico de águas azuis cercado pelo deserto. Depois de uns dias correndo atrás de peças para trocar o aro e o pneu traseiro da moto, saio daqui a pouco para percorrer mais uns 450 km e atravessar a fronteira com o Peru. Ah! Faltou falar do Paraguai. Mas também não vi muita coisa por lá e ainda fui roubado em US$ 50 por um policial que inventou que eu tinha passado um limite de velocidade em um lugar que ele nem sabia qual era. Ele me segurou na estrada, a uns 60 km da fronteira, e exigia dólares ostensivamente para me deixar seguir.

Abraços!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Graças ao Evo, mais um pouquinho de Brasil

Como não teve jeito mesmo na fronteira da Bolívia (olhem a imponência do escritório da aduana aí ao lado), acabei desistindo do país de Evo Morales e decidi passear mais um pouco no Pantanal e conhecer Bonito, no Mato Grosso do Sul, antes de atravessar a fronteira para o Paraguai. Peguei a chamada Estrada Parque, que dá uma volta um pouco maior para sair de Corumbá mas corta o pantanal. Apesar de um pneu furado, valeu a pena. 






Jacarés, capivaras, pássaros e até um filhote de veado (dessa vez, vivo) me fizeram companhia no trajeto de 130 quilômetros de estrada de terra. Nessa foto acima, a capivara e seu filhote nem se incomodam com o "ameaçador" jacaré.




Com o atraso do pneu furado, só consegui chegar a Bonito umas 22h de sábado e só hoje é que vou fazer o passeio do Rio da Prata, que se desce o rio com máscara e snorkel nas águas repletas de peixes que já estão bem acostumados com os turistas. Apesar da beleza do lugar, a princípio estou achando o turismo daqui organizado demais. Sei que é bom para a cidade para a sustentabilidade da atividade, mas eu queria poder ir a uma gruta, rio ou cachoeira sem um guia e um grupo de turistas. Fora que não há nada de graça aqui. Para entrar em qualquer rio é preciso pagar. E não é barato.




sábado, 17 de março de 2012

Ainda não foi dessa vez...

Queridos amigos-leitores,

Para minha frustração total, Evo Morales não me quer em seu país e minha moto foi barrada na fronteira. Logo minha primeira fronteira! Tudo isso aconteceu porque o funcionário da aduana (receita federal deles) de um posto de fronteira entre o Chile e a Bolívia não deu baixa na minha saída com a moto da Bolívia em 2006, quando cruzei as terras bolivianas rumo ao deserto do Atacama.

Quando um turista entra com o veículo em um país recebe um papelzinho de importação temporária, com validade de 30 dias em geral, que deve ser devolvido na saída. Eu devolvi o meu em 2006, mas o funcionário (que eu me lembro tinha sido acordado por mim logo ao amanhecer) não deu baixa no sistema ou jogou fora o tal documento. Então, a minha moto está cadastrada no sistema da receita boliviana como se tivesse ficado ilegalmente no país por esses seis anos.

Pela burocracia ou falta de lógica e bom senso, ou tudo isso junto, o funcionário da aduana aqui na fronteira com Corumbá disse que se minha moto entrar na Bolívia será apreendida. Passei ontem o dia todo explicando que, se eu já estava no Brasil, com o documento brasileiro de 2011, como poderia ter ficado todo esse tempo na Bolívia. O burocrata diz que no sistema minha saída está em aberto e que não há como mudar isso. "Ninguém pode mudar isso no sistema", diz ele.

Ontem, vim ao consulado da Bolívia em Corumbá, falei com o consulado brasileiro em Puerto Quijaro (a cidade do lado de lá da fronteira) e nada. Daqui a pouco, o encarregado de plantão do consulado brasileiro vai me encontrar lá na fronteira, mas já estou sem esperanças. Há um brasileiro que trabalha na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra que está com o carro em situação parecida e está há três dias parado lá na fronteira sem conseguir entrar.

Após passar a noite pensando em um caminho alternativo para seguir viagem, decidi  que vou descer para o sul e cruzar o Paraguai. Então, se daqui a pouco não conseguir entrar na Bolívia, sigo hoje mesmo até Bonito (MS), onde fico um dia para conhecer o lugar, e depois sigo para Ponta Porã, para cruzar a fronteira com Pedro Luís Cabalero, cidade em que os traficantes brasileiros costumam passar temporadas e até serem presos. De lá, atravesso o Paraguai e sigo para o norte da Argentina e Chile, para contornar a Bolívia.

A outra opção era ir até o Acre e cruzar a fronteira com o Peru, em Assis Brasil. Mas escolhi o caminho do Paraguai porque estou meio com preguiça de encarar 3 mil quilômetros de BRs mal conservadas, cheias de caminhões e ainda no período de chuvas da Amazônia. Dizem que chove o dia todo, todos os dias. E, de moto, chuva não é legal.

Até a próxima, espero eu, com notícias melhores!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Bye Bye Brasil

Corumbá (MS), 16 de março de 2012

Finalmente, após vários adiamentos, estou saindo do Brasil para a viagem de moto até os Estados Unidos, passando por 15 países das três Américas. A saída foi no dia 13 de março, do Rio de Janeiro, e o destino final será o Alasca, se meu dinheiro permitir. Se o orçamento ficar apertado, volto da Flórida ou de Nova York, o que também não será nenhum grande problema. A ideia é levar uns quatro meses nessa jornada e mandar a moto de volta por navio. Eu volto de avião.

Para sair do Brasil, escolhi a fronteira com a Bolívia, na cidade brasileira de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, de onde escrevo esse post para iniciar nosso blog. Daqui a pouco, vou atravessar a fronteira e enfrentar a burocracia dos nossos vizinhos, que não deve ser muito diferente da nossa.

Na América do Sul, além da Bolívia, vou passar por Peru, Equador e Colômbia, de onde atravesso de barco rumo ao Panamá para então percorrer toda a América Central. No caminho, vou contando aqui as histórias da viagem para quem quiser saber.

Até aqui, foram três dias de muita estrada e pouco lazer. Só ontem, na estrada de Campo Grande à Corumbá, consegui aproveitar um pouco, com a bela paisagem do Pantanal ao entardecer, alguns jacarés nas lagoas e muitos pássaros. O triste é ver tanto bicho atropelado nessa estrada, além de vários tatus, havia restos de um jacaré e de um veado.

Abraços!